quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Capítulo 6 - John

As lembranças vieram. Foram inevitáveis, elas tomavam a minha mente de uma forma com que não conseguisse pensar em mais nada: só as relembrasse.
Era já noite e John ainda estava no trabalho. Nós já havíamos saído algumas vezes e não diferente de toda quinta-feira, iríamos nos encontrar. Mas aquele dia foi diferente. Fomos até um apartamento perto da saída da cidade, onde poucas pessoas conhecidas (e perigosas) podiam aparecer. Ele trancou a porta, olhou para a varanda da enorme janela e tirou o cinto, colocando-o na fechadura da porta. Fiz ele se deitar no sofá, na minha posição preferida (eu gosto de mandar) e fui chegando aos poucos perto dele. Peguei um morango que estava em cima da mesa de cabeceira, coloquei um pedaço na boca, mordendo em seguida. Eu o notei abrindo a boca, pensando que eu ia levar até ele, e quando ele percebeu que não iria fazer isso, me pegou da mesa e me pôs embaixo dele, no sofá.
Não precisávamos de muita coisa, tínhamos algo especial. Foi algo no primeiro olhar, me queimava ver ele de longe, sem poder tocá-lo. Era automático, o beijo era natural. Ele tinha tudo que eu precisava e me deixava extremamente feliz poder tê-lo quando quisesse.
Desabotoei a sua blusa, quando ainda ele estava preocupado em passar as mãos pela minha “parte de trás” (e olha que ele insistia nessa parte), quando notei uma coisa. Essa não, ele estava ferido.
Foi um tiro. Ele estava ferido. E sangrando. E eu me transformando.
Eu não lembro de mais nada. Só de me afogar no seu peito, partindo para o pescoço, quando um mar de sangue veio até a minha garganta. Ele ficou imóvel, mas quando suas mãos me tocaram, eu acordei.
Não havia muito que fazer... Eu o transformei, dando-lhe um pouco do meu sangue e matando-o em seguida. Pela manhã ele estava completo e ... Confuso.
- Você não teve culpa. Eu sabia do risco, pois já estava desconfiando e naquele dia, me descuidei. – ele disse, olhando profundamente em meus olhos
- Ah, John... Eu não queria ter feito aquilo, não sabia o que fazer quando você estava morrendo. Fui egoísta ao te transformar! – eu disse, retribuindo o olhar
- Não, eu meio que queria ... – ele disse, mas não o deixei terminar.
Segurei o seu rosto e o beijei. Não precisei de muito incentivo para me aproximar mais.
Ele me puxou para mais perto, me pegando em seus braços e colocando-me em seu colo. Ele começou a suspirar e, deslizou a mão pelos meus cabelos. Quando chegou perto do meu pescoço, começou a sentir a pulsação da minha corrente sanguínea e começou a vibrar ... O cheiro o afetava. Ele imediatamente comeu a beijar a minha nuca, segurando minhas pernas mais próximas a ele, quando virei para poder beijá-lo novamente.
Seus olhos ficaram negros e suas veias saltavam o rosto. Então, ele me mordeu.
Ele não sugou muito, pois estava agora concentrado em tirar o paletó. Enquanto ele se distraía com os botões de sua blusa, eu tratei de logo me sentar na cadeira, pois a recepcionista já estava a um minuto de abrir a porta. John percebeu no instante em que me sentei e tratou de ir para a poltrona.
- Olá, desculpe a demora. Senhorita, deseja alguma coisa para beber – ela perguntou.
- Nada. E muito obrigada por trazer. – John disse, rudemente.
Sorri com o seu mau humor.
Ela entregou um envelope branco, com o logotipo da delegacia e tratou de ir em silêncio, de volta a sua mesa.
- Aqui está, faça bom uso. – ele disse, entregando-me o envelope. Em cima, havia um bilhete com a sua caligrafia:
“Vejo-te depois, ela está nos escutando. Cuidado ao sair para não machucá-la.”
- Certo. Muito obrigada por tudo. – eu lhe falei, mais alto que o necessário, saindo em seguida.
Mandei um beijo pelo ar. É claro que iria vê-lo.
Conferi o envelope e tudo estava completo. Consegui me matricular na escola do pessoal da pensão e, incrivelmente, um emprego de balconista em uma livraria suburbana. Estava indo tudo maravilhosamente bem. Cheguei ao período da tarde na pensão, com cara de felicidade.
Estava bem corada também pois estava sem fome – havia feito um lanchinho no caminho – e isso sempre me deixava de ótimo humor. Fui diretamente para o quarto, guardar as minhas compras (o vendedor me adorou e me deu tudo como presente) e fui direto para o chuveiro, precisava me recompor.
O dia seguinte foi tedioso. Acordei cedo, fui para a escola e logo após, fui trabalhar. Voltei quase de noite para a pensão e se já não estivesse morta, já teria morrido de tédio.
Passei por todos, dando um sincero olá, me desculpando por não poder me juntar no jantar. Dei um olhar profundo para Tyler, que havia me dado uma cantada bem velha hoje de manhã, no café. (e olha que eu sei quando a cantada é velha)
Entrei no quarto, deixei minha bolsa em cima da cama. Lexi já estava dormido (ou fingindo). Liguei o computador com certo custo, quando ouvi um celular bipar. Fui verificar a bolsa da Lexi, mas não era o dela. Acho que era o meu, mas ... Eu não tinha celular...

Nenhum comentário:

Postar um comentário